11.10.2008

Correspondências - Charles Baudelaire

Correspondências
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam às vezes soltar confusas palavras;
O homem o cruza em meio a uma floresta de símbolos
Que o observam com olhares familiares.

Como os longos ecos que de longe se confundem
Em uma tenebrosa e profunda unidade,
Vasta como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se correspondem.

Há perfumes frescos como as carnes das crianças,
Doces como o oboé, verdes como as pradarias,
– E outros, corrompidos, ricos e triunfantes,

Como a expansão das coisas infinitas,
Como o âmbar, o almíscar, o benjoin e o incenso,
Que cantam os transportes do espírito e dos sentidos.

BAUDELAIRE, Charles. Oeuvres Completes I. Paris: Gallimard, 1976. (Pág. 11)

O estrangeiro - Albert Camus

"Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei. Recebi um telegrama do asilo: "Mãe morta. Enterro amanhã. Sinceros sentimentos." Isso não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem."

Escrevivendo “Memórias”: 2º Módulo – 2º Encontro

Conteúdos:
Apresentação do convidado: Frederico Tavares Bastos Barbosa (Poeta);
Discussão: Relações entre “Memória, poesia e escrita”.

Objetivos:
Propiciar aos participantes a interação com um escritor renomado que os levará a uma reflexão sobre a relação entre ”Memória, poesia e escrita”, de forma a contribuir para o processo de produção textual individual, cujo tema se intitula: “Memórias de família”.

Breve descrição:
Meus caros,
Recordar o segundo encontro do “Escrevivendo Memórias” será realmente um grande exercício de memória, já que uma manhã intensa como aquela certamente não caberão nas palavras que aqui seguem. Estas se mostram, ainda, poucas e fragmentadas para sistematizar e traduzir o maravilhoso (desculpe a não neutralidade) que vivemos naquelas horas. Mas, vamos lá:
Contamos no sábado com a presença do simpático Frederico Barbosa [1], o homem simples que escreve poesia. Numa manhã pra lá de poética, o escritor conversou com os escreviventes sobre as relações entre “Memória, poesia e escrita”.
O papo começou com o resgate do poema épico grego A Ilíada, de Homero, referência para discutirmos como a tradição oral foi por um logo tempo a forte aliada da memória.
Tendo por base o contexto grego, Frederico esboçou a íntima relação que a poesia possuía com a música naquele tempo, mostrando que tal junção era o elemento fundamental para o ato de “decorar”.
Uma parada neste ponto para recordar o exercício “cientificamente” comprovado que fizemos para demonstrar o poder dessa junção, a “Música Chiclete”, ou seja, aquele tipo de música que sai sai da nossa cabeça, como: “Você é luz/ É raio estrela e luar/ Manhã de sol/ Meu iaiá, meu ioiô” (Fogo e paixão, Wando). Que atire a primeria pedra quem não tem esses versos na memória... Em nosso grupo acho que alguns já até jogaram a calcinha...Foi ilário! kkkkkk. Bricadeiras a parte voltemos:
Um salto na história e chegamos à intervenção da escrita como registro da memória, que influenciou diretamente a tradição oral e, conseqüentemente, o ato de decorar. Percebemos aqui que ficamos “preguiçosos” no exercício de manutenção da memória, ainda que esta esteja presente fortemente enquanto tema na literatura. Basta pensarmos nas inúmeras narrativas predominantemente realizadas como exercício de recompor o passado...
Conversa vai, conversa vem, surgiu na roda a máxima “o poeta sente mais que os outros”. Frederico discordou radicalmente dessa afirmação e colocou sua opinião: o grande êxito do escritor reside em “fazer o outro sentir”. Somando a essa idéia uma companheira de classe disse: não só isso, mas “o compartilhar, o prazer, a relação com o outro”. Estas palavras idéias ficaram ecoando na sala e a conversa se aprofundou...
Em determinado momento, o escritor buscou ampliar nossa percepção de leitor e escritor, chamando a atenção para o processo de apreensão da memória, a qual se dá pelos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Segundo Frederico, o escritor deve estar atento a explorá-los, e não se limitar aos dois primeiros, predominantes em uma sociedade pautada na comunicação. Pensar em nossas memórias como um momento apreendido pela junção dos diferentes sentidos pode contribuir em narrativas mais ricas...
Finalizamos nosso encontro lendo alguns poemas (Sem você e Memória Se) de Frederico. Ele nos relatou um pouco sua trajetória de vida como escritor utilizando-se da comparação de dois poemas escritos em diferentes momentos: Certa Biblioteca Pessoal 1978, sua adolescência e, Certa Biblioteca Pessoal 1991, maturidade, num belo exercício de “Memória, poesia e escrita”.
É isso pessoal, comentem esse encontro, vamos rememorá-lo! Foram tantas coisas bacanas, quanto mais contribuição melhor...
Ótima semana. Escrevivemos no sábado 22/11, no qual teremos a presença da palestrante vovó Neuza (especialista em memórias; http://vovoneuza.blogspot.com/). Claro, não esqueçam, por favor, de trazer impresso suas memórias de família, vamos utilizá-las no encontro.

Abraços.

Recomendações do dia:
“O estrangeiro” – Albert Camus
“ Em busca do tempo perdido” – Marcel Proust
“ Correspondências” – Charles Baudelaire